Oportunidade de diálogo e a manifestação da cultura negra caracterizaram a sessão solene da Assembleia Legislativa (AL) em homenagem ao Dia da Consciência Negra. Requerida pelo deputado Paulo Mourão (PT), a sessão foi um marco na semana em que se homenageou os negros e negras do Tocantins e do Brasil e aconteceu na última quarta-feira, 22, no plenário da AL.
A declamação do poema “Faveláfrica” pela representante do Movimento Enegrecer e Movimento Hip Hop de Palmas, Rossana Faustino, levou o deputado a refletir sobre a realidade da comunidade negra e os abismos que ainda existem no Brasil e no Tocantins. “Só vai haver uma verdadeira transformação quando a consciência do ser humano sobrepor ao estado de abandono que a maioria da sociedade brasileira ainda vive”, disse Mourão ao pontuar que 55% dos brasileiros que se declaram negros ou pardos.
A preocupação de Paulo Mourão é que o Brasil ainda é um dos países mais desiguais do mundo. Na educação ele ressaltou que a população no Brasil estuda em média 7,8 anos, mas quando se fala em negros que frequentam a escola a média cai para 6,2 anos. Quanto ao emprego o deputado pontuou que 64% dos desempregados brasileiros são negros e quando o assunto é violência, Mourão alertou que dos 30 mil jovens que são assassinados no Brasil todos os anos, 77% são negros. Já no serviço público de saúde ele informou que 77% dos negros brasileiros usam o Serviço Único de Saúde (SUS) contra 45% do branco.
Para Mourão, diante de tamanha desigualdade é preciso agir. “Precisamos trazer a discussão para dentro da Assembleia, temos que buscar emendas para fomentar a igualdade de oportunidades a todos os Tocantinenses”, ressaltou o deputado ao ponderar ainda que tudo que puder ser feito ainda é pouco para cobrir as desigualdades e exclusão que vive a comunidade negra.
“Estamos discutindo Orçamento e este é o momento de trazer esta ação como prioridade e não como compensação”, disparou Mourão ao ressaltar que “nos 29 anos de política econômica e administrativa, o Tocantins ainda não colocou a política da igualdade e da inclusão como a política das prioridades”, por isso o deputado conclamou a todos os parlamentares presentes a abraçar a luta da comunidade negra além dos discursos, partindo para a ação efetiva.
Participação
Os representantes da comunidade negra tocantinense puderam usar a palavra na tribuna e a coordenadora Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins, Ana Mumbuca, agradeceu as palavras e a iniciativa de Mourão ao ressaltar sua alegria em poder estar na Casa de Leis, e concordou com a necessidade de os parlamentares agirem em prol das comunidades quilombolas do Estado e do fim da invisibilidade social. “É preciso sair do discurso e abraçar a nossa luta que hoje é a necessidade de uma lei que garanta a titularidade das terras quilombolas, como já vemos em tantos outros estados. Precisamos do direito de viver e de existir”, conclamou Ana.
A jornalista e representante do Instituto Crespas do Tocantins, Maria José Cotrim, lembrou que no Tocantins hoje mais de 70% da população é composta por negros e negras e neste sentido lembrou a necessidade da conscientização e formação da identidade étnico racial no Tocantins pois a atual realidade no que diz respeito a desigualdade social dos negros no estado é, em muitos casos, pior do que a realidade vivenciada no Brasil, a exemplo o ensino superior, que somente 3% jovens negros chegam até lá.
Estiveram presentes ainda representantes das Casas Religiosas de Matriz Africana, dos movimentos populares, bem como gestores e legisladores do estado. Diversos atores da cena cultural negra do Tocantins também se apresentaram, como o cantor e compositor Dorivã, a Academia Tambor com o grupo de capoeira, o Terreiro de Umbanda Tenda do Caboclo apresentou uma dança cigana e Rossana Faustino, do Movimento Enegrecer e do Movimento Hip Hop de Palmas declamou o poema “Faveláfrica”.
Homenagens
A atuação política, social e cultural ativa na sociedade foi reconhecida pela Assembleia Legislativa com a indicação de 14 homenageados indicados pelo destaque na atuação pela igualdade racial e escolhidos em conjunto com os movimentos negros do Tocantins.
O deputado Paulo Mourão fez questão de ressaltar a atuação dos médicos Eduardo e Heloísa Manzano na causa do povo negro. “Pela dedicação em prol de justiça, em prol de igualdade de oportunidades que eu peço a permissão a todos os homenageados deste dia para cumprimenta-los em nome do doutor Eduardo e da doutora Heloísa Manzano.”
Confira a lista de homenageados:
Ana Cláudia Matos da Silva: Fundadora da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins, representante das Comunidades Quilombolas no Conselho do Mosaico do Jalapão e artesã do Capim Dourado;
André Luiz Gomes da Silva: Professor e representante da comunidade quilombola Malhadinha de Brejinho de Nazaré e representante dos Agentes Pastorais Negros do Tocantins;
Ednilson Soares de Melo: Radialista
Eduardo Manzano: Médico, fundador e presidente de honra da Comunidade de Saúde, Desenvolvimento e Educação (Comsaúde);
Everton dos Antes: Cantor, compositor, artista portuense;
Francisco das Chagas Robson (B.boy Robson): Cantor, dançarino, professor e representante do Movimento Hip-Hop de Palmas;
Geraldo Silva Filho (in memoriam): Professor da UFT, idealizador e coordenador geral do Núcleo de Estudos Afro Brasileiros da UFT;
José Iramar da Silva (in memoriam): ativista do grupo de Consciência Negra do Tocantins, músico, diretor teatral, fotógrafo, cinegrafista e editor;
Maria de Fátima Batista Barros: Pedagoga, militante da Articulação Nacional de Quilombos, secretária da Associação dos Remanescentes Quilombolas da Ilha de São Vicente em Araguatins, membro do GT de Comunidades Tradicionais da CRP 23 e membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas;
Maria José Cotrim: jornalista, membro da Coordenação Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira), idealizadora e coordenadora do instituto Crespas;
Maria Lúcia Fernandes Rocha: artista cênica, coreógrafa, dramaturga, artista plástica e fotógrafa documentarista;
Manuel Barbosa da Silva: Coordenador e um dos fundadores da Associação negra cor de Araguaína, membro do Conselho Estadual da Igualdade Racial (Cepir) e Diretor da Escola Estadual João Alves Batista de Araguaína;
Rosa Inês Sousa Santos Carmo: Coronel da Polícia Militar do TO;
Ya Isa Silé: Representante da Casa de Culto Ilé Ase Amo Selé, Isa Silé e membro do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Cepir).