O Brasil enfrenta uma epidemia de sífilis, Doença Sexualmente Transmissível (DST) causada pela bactéria Treponema pallidum. O Ministério de Saúde admite a epidemia. Mesmo assim, não lançou até o momento nenhuma campanha institucional educativa, que alertasse a população sobre o mal.
O Tocantins, segundo o Boletim Epidemiológico de Sífilis – 2018, publicado em novembro passado pelo Ministério da Saúde, apresenta o maior coeficiente de mortalidade infantil por sífilis congênita em menores de 1 ano por 100 mil nascidos vivos. Os dados são de 2017 e fornecidos pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).
A tabela abaixo mostra que o Tocantins apresentou o maior coeficiente de mortalidade de bebês pela doença. A taxa ficou em 33,5 por 100 mil nascidos vivos, muito acima da média nacional que ficou em 7,2 casos. Em números totais foram 8 mortes de bebês pela doença em 2017.
A sífilis é uma doença infectocontagiosa, sexualmente transmissível. Embora seja transmitida pelo contato sexual, na maioria dos casos, ela pode aparecer também em decorrência de transfusão de sangue, por contato direto com sangue contaminado ou na forma transplacentária, transmitida da mãe para o feto, em qualquer período da gestação - a sífilis congênita.
Também no ano de 2017 o Tocantins ficou entre os 11 estados que apresentaram taxas de incidência de sífilis congênita superiores à taxa nacional que foi de 8,6 casos/1.000 nascidos vivos. No estado, em 2017, a taxa foi de 12,0 a cada 1000 nascidos vivos - o que representa 287 casos em 2017. Já em 2018 foram 194 casos notificados.
Em todo o Brasil houve crescimento de 16,4% na incidência de sífilis congênita com relação a 2016
Gestantes
Já com relação à sífilis em mulheres grávidas, o Tocantins também ficou entre os 9 estados que apresentaram apresentaram taxa de detecção em gestantes acima da taxa nacional de 17,2 casos em 2017. O estado superou esta média com taxa de 18,3 - equivalente a 436 casos detectados em 2017. Já em 2018 foram 325 casos de sífilis em gestantes em 2018. Na capital, Palmas, a taxa foi ainda maior, ficando em quase 30,0. Os dados do boletim foram obtidos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
Em todo o país houve um crescimento de 28,5% na taxa de detecção de sífilis em gestantes com relação a 2016. A médica ginecologista Juliana Pierobon, da Altacasa Clínica Médica, adverte que a população sexualmente ativa deve estar atenta e adotar medidas de prevenção, como a realização de exames médicos regulares e, principalmente, o uso de preservativo durante as relações sexuais. "A sífilis é um mal silencioso. Após a infecção inicial, a bactéria pode permanecer no corpo por décadas, para só depois manifestar-se novamente. A doença é grave e não pode ser negligenciada”, ressalta.
Sífilis adquirida
Os dados do boletim epidemiológico demonstram que o aumento nos casos de sífilis adquirida foi de 31,8%.
A taxa de detecção de sífilis adquirida no Tocantins - contraída por relação sexual sem proteção - também ficou acima da média nacional de 58,1 a cada 100.000 habitantes. No estado o panorama foi de 70,3 casos/100 mil hab e na capital de 135,8/100 mil hab.
O boletim alerta que em 2017, a maior parte das notificações de sífilis adquirida ocorreu em indivíduos entre 20 e 29 anos (35,3%), seguida daqueles na faixa entre 30 e 39 anos de idade (21,7%).
A população mais afetada pela sífilis são as mulheres, principalmente as negras e jovens, na faixa etária de 20 a 29 anos. Somente esse grupo representa 14,4% de todos os casos de sífilis adquirida e em gestantes notificados em todo o país. Na comparação por sexo, as mulheres de 20 a 29 anos alcançam 26,2% do total de casos notificados, enquanto os homens nessa mesma faixa etária representam apenas 13,6% no Brasil.
Sintomas
A sífilis manifesta-se inicialmente como uma ferida indolor, mais frequentemente localizada na genitália, no reto ou na boca. Em uma segunda fase, é caracterizada por lesões avermelhadas na pele, inclusive na palma de mãos e planta de pés. A partir daí, ocorre um período sem novos sintomas até a fase final (latência), que pode variar de meses a anos, levando a sérios danos para a saúde em geral e até à morte.
“É muito importante alertar que um terço das pessoas que tem um parceiro infectado adquire a doença. Os sintomas são mais evidentes nos estágios iniciais, quando o risco de transmissão também é maior. Depois, a bactéria fica latente no organismo. Se a doença não for investigada e tratada, pode voltar com agressividade, levando o indivíduo, muitas vezes, a complicações graves, como doenças cardíacas, transtornos mentais, cegueira, paralisia e até mesmo à morte”, adverte a ginecologista da clínica Altacasa, na capital paulista.
Por isso, a realização do teste de sífilis é fundamental, não só entre as gestantes, mas também entre os jovens, que em geral têm uma vida sexual mais ativa. É nesta faixa etária, inclusive, que foi registrado maior aumento de casos da doença nos últimos anos.
"Os jovens, que cada vez mais praticam sexo sem prevenção por não saberem muitas vezes do perigo das DSTs, precisam ser alertados. Acredito que o tema deveria ser discutido, inclusive, nas escolas e universidades. No caso das gestantes, é importante iniciar o pré-natal o mais cedo possível, com a inclusão do teste de sífilis (VDRL) no primeiro e no terceiro trimestre da gravidez, além de repeti-lo na hora da internação para o parto", afirma a dra. Juliana.
Teste
A sífilis tem cura. O tratamento é simples e feito com antibióticos. Todos que tiveram relação sexual sem proteção devem fazer o teste, que está disponível na rede pública de saúde.
"O teste que detecta a sífilis – e também o HIV – é rápido, seguro e sigiloso. É realizado a partir da coleta de uma gota de sangue da ponta do dedo. Depois de 20 minutos, em média, sai o resultado. O diagnóstico precoce é muito importante. Quanto mais rápida é a descoberta da sífilis, mais cedo é possível começar o tratamento, prevenindo doenças oportunistas. Além disso, a rápida conscientização sobre a doença possibilita que a pessoa não transmita a bactéria para seus parceiros. Na suspeita de algo diferente no seu corpo procure o médico, busque informações e utilize sempre o preservativo na hora do sexo”, conclui a especialista.
Sesau
O Conexão Tocantins solicitou à Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informações sobre os dados da doença no Estado e campanha de conscientização e prevenção da sífilis no Tocantins, mas até o momento não recebemos nenhum posicionamento. O espaço continua aberto. (Da redação com informações AI da Altacasa Clínica Médica)