A pandemia desencadeada pela Covid-19 é trágica e catastrófica, embora muitos irresponsáveis tentem minimizá-la em discursos, ações e maus exemplos que somente contribuem para o agravamento da situação.
É muito difícil enfrentarmos uma doença como essa, porque não a conhecemos e não temos tratamento eficaz para os casos mais graves. Sabemos que para evitar a propagação é o distanciamento social, máscaras, higiene das mãos e para evitar a doença é a vacinação. Nessa guerra precisamos da união de todos e solidariedade.
Todavia, informações variadas chegam diariamente apavorando a população. Infelizmente, no Brasil estamos na contramão. Lideranças políticas colocam seus interesses pessoais para futuras eleições acima de tudo e alheios ao quadro dramático que estamos vivendo.
Tenho observado outro aspecto muito sinistro que embora evidente passa quase despercebido ou sem reflexões maiores: a ocorrência de monstruosos atos, verdadeiros crimes de desumanidade praticados por pessoas sem caráter, algumas investidas em cargos públicos, que sem a menor sensibilidade humana se prevalecem da situação para tirar proveito financeiro indiferentes à desgraça sanitária que infelicita as famílias brasileiras, cujo registro de mortes se encaminha para meio milhão de vítimas fatais. Como exemplo, entre muitos outros fatos, cito:
- Ações como furar a fila de vacinação;
- Governos Estaduais e Municípios superfaturando o preço dos produtos para o tratamento da doença;
- Laboratórios e distribuidoras de medicamentos alterando o preço do produto em muitos casos acima de 300%;
- Aquela “enfermeira” em Minas Gerais, em parceria com empresários e políticos criando um posto de vacinas falsificadas para ganhar dinheiro;
- Aparecimento de cibercriminosos se passando por representantes da OMS e do Ministério da Saúde para obter doações falsas e roubar dados pessoais;
- Vendas de testes falsificados;
- As igrejas defendendo a volta dos cultos presenciais menos pela espiritualização e mais para devolução do dízimo, segundo o pastor Augustus Nicodemus Lopes, da 1ª Igreja Presbiteriana de Recife, em artigo publicado pela Folha de S. Paulo.
- Recorrentes fraudes no recebimento do auxilio emergencial, envolvendo inclusive funcionários públicos de todos os níveis. Isto é crime contra a economia popular.
Enquanto como fator positivo temos os profissionais de saúde com dedicação, desprendimento e riscos a própria saúde trabalhando há mais de um ano literalmente salvando vidas.
Enaltecemos também a solidariedade de pessoas e entidades para minimizar os efeitos da pandemia.
Devemos reconhecer o empenho dos cientistas que se dedicaram e conseguiram em tempo recorde produzir vacinas para prevenir contra essa terrível virose.
Lamentavelmente, não existe vacina contra o caráter criminoso das pessoas que aproveitam uma tragédia como esta pandemia para tirar vantagens pessoais em detrimento de vidas humanas
*Luiz Carlos Borges da Silveira é médico, ex-ministro da Saúde, ex-secretário de Ciência e Tecnologia do Governo do Estado do Tocantins e exsecretário do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Emprego do Município de Palmas-TO