No Tocantins, a população dos povos originários soma 20.023 pessoas autodeclaradas indígenas, representando 1,32% da população total do estado, de acordo com dados divulgados nessa segunda-feira, 7, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), resultados do Censo 2022. Para Secretaria dos Povos Originários e Tradicionais (Sepot), dados reforçam a necessidade de elaboração de políticas públicas específicas para essa população.
Os números ampliam a base para atuação da Secretaria junto à população indígena do estado. “Antes não tínhamos essas pesquisas amplas. Isso é muito importante para essa Secretaria inédita. São dados que estávamos buscando, agora a gente começa a ter um outro panorama. Estamos em contato com essa população, sabemos da sua realidade, eu sou indígena, muitos dos nossos servidores são indígenas ou quilombolas, mas mesmo conhecendo a realidade dos nossos povos, precisávamos dos dados oficiais para operacionalizarmos nossos projetos e articularmos nossas políticas de forma estratégica visando o atendimento a esses povos”, disse a secretária dos Povos Originários e Tradicionais, Narubia Silva Werreria.
Com a divulgação dos dados, “hoje não existe mais ponto de interrogação” disse o diretor de Proteção aos Povos Indígenas da Sepot, Paulo Waikarnãse Xerente, quando analisa a distribuição da população nos territórios.
Distribuição da população
A maioria dessa população, 15.213 (75,9%) vive em terras indígenas, enquanto 4.810 (24%) reside fora delas. Isso representa mais que a média nacional, sendo 36,7% vivendo em territórios e 63,2% não. O Tocantins ficou em 2º lugar, atrás do Mato Grosso, com 77,3%.
Um dos dados que surpreendeu foi a distribuição da população indígena nos municípios tocantinenses. Dos 139 municípios, há pelo menos uma pessoa autodeclarada indígena em 125 deles, ou seja, somente em 14 municípios não há indígenas no Tocantins. Para o diretor de Proteção aos Povos Indígenas, Paulo Xerente, uma das explicações é o fato dos estudantes universitários indígenas estarem matriculados em municípios diferentes daqueles das suas aldeias.
“Acontece um fenômeno só com a população indígena que é como se deixássemos de ser indígenas por irmos para outros lugares, adquirirmos bens de consumo que não fazem parte da nossa cultura. Nenhum brasileiro vai deixar de ser brasileiro se for morar no Japão, mas as pessoas queriam nos rotular como não indígenas por hoje estarmos nas cidades, por cursarmos uma universidade, por termos um celular. Isso faz parte de um apagamento da nossa identidade, de um apagamento preconceituoso, porque quer dizer que os indígenas não existem mais, portanto não poderiam reivindicar suas terras e serviços especializados. Esses dados mostram que estamos em todos os lugares e devemos sim ter políticas públicas específicas para a população indígena independente de onde estiver”, explica a Secretária.
As cidades com maior população indígena no Tocantins são: Tocantínia (4.086), Goiatins (2.650), Tocantinópolis (2.352), Lagoa da Confusão (2.340), Formoso do Araguaia (1.633), Itacajá (1.195), Pium (983), Gurupi (802), Palmas (645) e Maurilândia do Tocantins (483). Em relação à proporção na população total dos municípios, os maiores são Tocantínia (54,8%), Goiatins (21,3%), Itacajá (17,5%), Maurilândia do Tocantins (15,6%) e Lagoa da Confusão (15,3%). Conforme o IBGE, em 12 municípios no Tocantins há indígenas vivendo em terras indígenas. O Parque Araguaia é a Terra Indígena com maior população do estado.
Quanto aos domicílios particulares permanentemente ocupados por um morador indígena no Tocantins há 5.772, o que representou 24.462 pessoas, ou seja, a média de moradores no estado foi de 4,24 em cada um deles. A média foi maior que a do país, apontada como 3,64 pessoas.
Crescimento populacional
A edição do Censo 2010 havia contabilizado 13.131 indígenas no Tocantins. Com a divulgação do Censo 2022, foi verificado aumento dessa população. “Esse crescimento acontece por vários fatores, as pessoas estão com orgulho de se declararem indígenas, que acontece também com a população negra que cresceu. As pessoas estão deixando o racismo estrutural e reconhecendo sua identidade, muitos indígenas se declaravam partos, hoje eles olham e se reivindicam indígenas com orgulho das suas raízes. Outro fator é o IBGE ter se preparado para esse Censo trabalhando em conjunto com instituições indígenas. É muito importante saber que a população está crescendo no estado e precisa de políticas públicas específicas”, analisa a secretária.