O primeiro-ministro de Israel vem sofrendo desgaste político desde o início do atual mandato. A oposição interna e a rejeição externa e em seu próprio partido, o Likud, dificultaram a formação de um governo de coalizão, já que não havia feito maioria no parlamento; foram meses de negociações, acordos e conchavos. Tal situação refletia a tenaz insistência em se manter no poder, no comando, na liderança. Até porque, pesavam (e ainda pesam) contra ele denúncias de negociatas e até corrupção. Algumas das acusações restaram provadas, sendo o motivo do apego a imunidade do cargo.
Benjamin Netanyahu havia perdido apoio de aliados e do eleitorado que se transformaram em sistemática oposição. Era urgente recuperar o terreno perdido e o respeito da opinião pública, dentro e fora do país.
Foi quando o Hamas cometeu a provocação, atacando Israel e fazendo de início centenas de vítimas fatais. Deu o motivo que Netanyahu precisava: o revide, a vingança, oportunidade para unir a nação e lavar a honra contra o inimigo histórico do povo judeu. Não é difícil imaginar essa disposição do primeiro-ministro.
Está provado que recorrer à força é a alternativa de governantes que perdem a liderança e a confiança de seu povo. Uma guerra, por mais localizada e restrita que seja, coloca a nação ao lado do líder, ainda que este não seja popular. A luta contra inimigo comum reacende o patriotismo e une o povo a seu comandante político.
Netanyahu deve ter imaginado que podia revidar a ação, dar uma lição no Hamas e em pouco tempo colocaria o povo a seu favor. Seria, para o exército mais poderoso, maior e mais bem preparado apenas breve escaramuça. Depois, o primeiro-ministro apareceria como herói. Netanyahu não contava com a resistência do inimigo teoricamente mais fraco. A ‘pequena escaramuça militar’ em Gaza já está no sexto mês.
Contra o comando israelense acumulam-se o prolongamento do conflito, as perdas humanas, inclusive civis de Israel, as denúncias de ‘massacres’ de palestinos, empecilho à ajuda humanitária e agora o efeito na economia, pois esta semana houve informe oficial de que o PIB de Israel recuou 5% desde o início do conflito, em outubro passado. Tudo isso inverteu a situação imaginada pelo líder judeu. Pesam também as bravatas de Netanyahu que prometia acabar logo com a resistência do Hamas.
Diante desses fatos, nos últimos dias se multiplicaram atos de protestos em Israel. Residentes no país, não somente judeus, participaram de passeata até Jerusalém, acentuando críticas ao primeiro-ministro. Também ocorrem manifestações fora de Israel contra a guerra e a atuação de Netanyahu. Influentes lideranças judaicas que vivem em outros países, reiteradamente fazem declarações nesse sentido. Enfatizam que o conflito e a posição do primeiro-ministro difundem imagem negativa de Israel, e dos judeus em geral, na opinião pública internacional. Essas lideranças gozam de prestígio e influência em face da posição que ocupam em atividades na ciência, pesquisas e negócios, especialmente no mundo financeiro mundial.
Da mesma forma, o Hamas se desgasta perante o povo palestino devido ao sacrifício imposto à população civil com desespero, mortes e sofrimentos decorrentes da falta de alimento, água e assistência em saúde. O Hamas é um grupo revolucionário, radical e belicoso que não representa o povo palestino, é apenas minoria que se apossou da liderança na região. Desde então se tornou agente de tensões contra Israel.
A animosidade entre judeus e árabes, ou a luta por território, vem de longa data, mais de três mil anos, tempos dos filisteus, assírios, babilônios, etc. Ponderam os especialistas que a solução moderna pode estar no estabelecimento de um estado para o povo palestino, porque a criação do estado de Israel foi importante, mas do ponto de vista árabe foi desigual.
Não resta dúvida quanto ao merecimento do povo palestino, que deseja tratamento igualitário e respeito entre as nações. A situação atual facilita os confrontos na região e vai seguir gerando conflitos enquanto a questão territorial palestina não for definitivamente resolvida.
Claro que esses povos desejam paz e harmonia, mas para isso há necessidade de vontade diplomática, da decisão oficial, legal e soberanamente reconhecida. Porém, a ONU e as principais potências não se movem nesse sentido, ao contrário. E nem sequer são sensíveis ao sofrimento e morte de tantos inocentes ao longo da história.
*Luiz Carlos Borges da Silveira é médico, ex-ministro da Saúde, ex-secretário de Ciência e Tecnologia do Governo do Estado do Tocantins e ex-secretário do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Emprego do Município de Palmas-TO.