O governador do Tocantins em exercício, Laurez Moreira, disse por meio de nota à imprensa, divulgada na noite dessa quinta-feira, 11, que recebeu com preocupação a informação de que durante a gestão de Wanderlei Barbosa foi firmado um acordo judicial que elevou uma dívida do Estado de pouco mais de R$ 31 milhões para R$ 85,9 milhões, resultando em honorários advocatícios na casa de R$ 20 milhões para o escritório que atualmente defende o governador afastado.
"Essa situação é extremamente grave. Estamos falando de cifras milionárias que impactam diretamente o orçamento público, comprometendo recursos que poderiam estar sendo aplicados em áreas essenciais para a população tocantinense", destacou Laurez.
De acordo com o governador interino, mais do que uma questão jurídica, trata-se de um episódio que expõe sérios questionamentos éticos e levanta dúvidas sobre a forma como o patrimônio público vinha sendo administrado. "É inaceitável que o Estado seja colocado em posição tão frágil em negociações que envolvem valores dessa magnitude", reclamou.
O acordo, sinalizou Laurez, será revisto. "Nossa gestão tem o compromisso de rever procedimentos, fortalecer os mecanismos de controle e garantir que decisões dessa natureza sejam sempre pautadas pela legalidade, pela moralidade e pelo interesse coletivo. O Tocantins precisa de responsabilidade e seriedade no trato com os recursos públicos".
Confira a nota na íntegra no final desta matéria.
Entenda mais
O caso repercutiu no Tocantins após a revista Veja divulgar reportagem, na quarta-feira, 10, sobre a "curiosa relação do governador com um advogado". O advogado em questão é Alberto dos Santos Moreira, profissional que defende Wanderlei na Operação Fames-19 - operação que resultou no afastamento do chefe do Poder Executivo Estadual. A reportagem, escrita pelo jornalista Robson Bonin, destaca que o jurista atuou, em 2023, como defensor de uma entidade num processo milionário contra o Governo de Wanderlei.
O jornalista da Veja apurou que, pelo trabalho contra o Estado e em defesa da entidade, o advogado e um sócio dele foram autorizados a receber mais de 20 milhões de reais em honorários.
O processo é da Pró-Saúde, que tinha para receber do Estado R$ 31.378.752,04, mas o acordo fechou em R$ 85.957.896,20. Confira a reportagem.
Na Câmara de Palmas
Na Câmara de Palmas o vereador Carlos Amastha (PSB) repercutiu a reportagem.
"Ontem a revista Veja nos trouxe uma notícia feia, coisas do nosso Tocantins, inacreditáveis. O doutor Alberto Moreira e o doutor Flávio Schegerin eram os dois advogados que defenderam o caso da Pró-Saúde contra o Governo do Estado. Pasmem, a dívida que o Estado tinha com o Pró-Saúde era de R$ 31 milhões e o acordo que o Estado fez, o Estado do Tocantins com o governador afastado, fizeram acordo para pagar R$ 85 milhões. [...] Os advogados doutor Moreira e o doutor Schegerin estão recebendo por causa desse processo R$ 20 milhões de honorários. Adivinhem quem são os advogados que estão representando o governador afastado Wanderlei Barbosa no STF: esses dois advogados", disse.
Amastha disse não estar culpando ninguém, mas que considera ser uma situação muito feia. "Para mim, não gosto do cheiro disso. Paciência!", declarou.
Leia também: Vereador repercute reportagem sobre curiosa relação de Wanderlei com advogado: "não gosto do cheiro disso"
Confira a fala do parlamentar na íntegra:
Afastamento do governador
O ministro do STJ, Mauro Campbell, determinou o afastamento do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa, por um período de seis meses. A decisão foi tomada no âmbito da Operação Fames-19, deflagrada pela Polícia Federal (PF) nessa quarta-feira, 3, para investigar um suposto esquema de desvio de recursos públicos voltados ao enfrentamento da pandemia de Covid-19, incluindo verbas destinadas à aquisição de cestas básicas.
A decisão do ministro Campbell foi referendada pela Corte Especial do STJ.
De acordo com a PF, as investigações, que tramitam sob sigilo no STJ, apontam fortes indícios de um esquema de desvio de recursos públicos entre os anos de 2020 e 2021, período em que os investigados teriam se aproveitado do estado de emergência em saúde pública e assistência social para fraudar contratos de fornecimento de cestas básicas.
Segundo a apuração da PF, foram pagos mais de R$ 97 milhões em contratos para fornecimento de cestas básicas e frangos congelados, com prejuízo estimado superior a R$ 73 milhões aos cofres públicos. Os valores desviados teriam sido ocultados por meio da construção de empreendimentos de luxo, compra de gado e pagamento de despesas pessoais dos investigados.
Saiba mais: Ministro do STJ determina afastamento do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa
Confira a nota do governador interino, Laurez Moreira, na íntegra:
Nota à imprensa
Recebi com preocupação a informação de que, durante a gestão passada, foi firmado um acordo judicial que elevou uma dívida do Estado de pouco mais de R$ 31 milhões para R$ 85,9 milhões, resultando em honorários advocatícios no valor de R$ 23.638.421,40 para o escritório que atualmente defende o governador afastado.
Essa situação é extremamente grave. Estamos falando de cifras milionárias que impactam diretamente o orçamento público, comprometendo recursos que poderiam estar sendo aplicados em áreas essenciais para a população tocantinense.
Mais do que uma questão jurídica, trata-se de um episódio que expõe sérios questionamentos éticos e levanta dúvidas sobre a forma como o patrimônio público vinha sendo administrado. É inaceitável que o Estado seja colocado em posição tão frágil em negociações que envolvem valores dessa magnitude.
Nossa gestão tem o compromisso de rever procedimentos, fortalecer os mecanismos de controle e garantir que decisões dessa natureza sejam sempre pautadas pela legalidade, pela moralidade e pelo interesse coletivo. O Tocantins precisa de responsabilidade e seriedade no trato com os recursos públicos.
A sociedade tocantinense pode ter certeza de que não mediremos esforços para assegurar transparência e respeito ao dinheiro do contribuinte. Esse é o caminho para resgatar a confiança e devolver a dignidade ao nosso Estado.
Palmas/TO, 11 de setembro de 2025.
Laurez Moreira
Governador do Estado do Tocantins