Apesar da recente moderação nas expectativas de inflação e da emergência dos primeiros indícios de arrefecimento da atividade econômica, o Banco Central (BCB) deverá sustentar a postura de estrita cautela na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), agendada para esta quarta-feira, 5 de novembro. A taxa Selic, atualmente em 15% ao ano, deve ser mantida, refletindo a convicção de que as condições necessárias para a inauguração de um ciclo de flexibilização monetária não estão ainda integralmente satisfeitas.
Os dados prospectivos revelam um alívio nas projeções inflacionárias para horizontes mais dilatados. O mais recente Boletim Focus referenda essa tendência desinflacionária, com a estimativa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2025 registrando a sexta redução consecutiva, posicionando-se em 4,55%. Similarmente, as projeções para 2026, 2027 e 2028 recuaram para 4,28% e patamares inferiores, sinalizando uma trajetória de convergência gradual da inflação.
Contudo, é crucial observar que, embora o vetor inflacionário caminhe na direção desejada, as expectativas medianas ainda se encontram acima do centro da meta (3%) estabelecida no regime de metas contínuas. A manutenção das projeções, mesmo que dentro do intervalo de tolerância (1,5% a 4,5%), reforça a percepção de que a ancoragem plena das expectativas ainda não foi alcançada. Este desvio limita significativamente o espaço para uma acomodação monetária imediata. Adicionalmente, o cenário macroeconômico é balizado pela resiliência da demanda agregada. A manutenção da projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2025 em 2,15% sugere uma atividade econômica que, embora desacelerando marginalmente, impede a abertura de um hiato do produto suficientemente amplo. Este quadro é agravado por um mercado de trabalho que permanece notavelmente aquecido, o que pode exercer pressões inflacionárias de custo e demanda, comprometendo a sustentabilidade da desinflação.
Neste contexto, a manutenção da Selic em 15% é o desfecho majoritariamente precificado pelo mercado. A comunicação pós-reunião, ao mesmo tempo em que reconhece a melhora das expectativas, não a considerará (ainda) suficiente para alterar o grau de restrição monetária vigente. A tônica, portanto, deverá ser a reiteração de um ciclo prolongado de taxas elevadas.
A principal incerteza do mercado reside agora na determinação do ponto de inflexão do ciclo, debatendo-se a janela entre janeiro e março de 2026. O Focus reitera que, apesar da melhora marginal do trade-off entre inflação e atividade, a batalha pela credibilidade e ancoragem ainda não foi integralmente vencida, justificando ainda persistência do Copom em sua estratégia de uma politica monetaria restritiva.
*Roberto Simioni é economista chefe da Blue3.

