Consolidou-se entre os bancos - passando de 70% para 85,7% das instituições ouvidas - a expectativa de que o próximo ciclo de queda da taxa Selic deve começar no 1º trimestre de 2026, revela a Pesquisa de Economia Bancária e Expectativas da Febraban. O resultado do levantamento, feito com 21 bancos entre 23 e 29 de setembro, mostra que a mediana das projeções aponta redução de 0,25 ponto percentual (p.p) na reunião de janeiro de 2026 e quedas de 0,50 p.p nas reuniões posteriores, com a taxa Selic chegando a 13,75% em abril.
O levantamento mostra que a percepção é que os riscos para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), se inclinam para o lado negativo. Embora a maioria dos participantes ainda projete um crescimento do PIB em 2,2% este ano, em linha com o consenso, é nítido um aumento do número de analistas que esperam um desempenho mais fraco. No levantamento de agosto, 70% acreditavam em crescimento em torno de 2,2%, percentual que se reduziu para 57,1% em setembro. Ao mesmo tempo, subiu de 30% para 38,1% os bancos que veem um crescimento menor no ano.
A pesquisa, realizada sempre após a divulgação da Ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), deixa claro que se estabilizou a expectativa de crescimento do crédito em 2025. A projeção para a expansão da carteira total de crédito em 2025 foi mantida em 8,7%, mesmo patamar dos levantamentos de julho e agosto.
Dessa forma, também se consolida a projeção dos analistas consultados de que o saldo de crédito no 2º semestre de 2025 irá desacelerar, considerando que, de acordo com o Banco Central, a alta anual registrada em agosto foi de 10,1%, menor que os 10,8% verificados em junho.
A estabilidade das projeções da carteira reflete, de um lado, a leve alta esperada para o crescimento no crédito direcionado, que subiu de 9,6% para 9,8%. Essa elevação deve ser impulsionada pelo crédito para empresas (12,2%, ante 10,9%), em função da forte expansão dos recursos disponíveis em programas governamentais. Esse aumento foi parcialmente compensado pela queda esperada na carteira direcionada para as famílias, cuja expectativa de crescimento recuou de 9,1% para 8,9%, refletindo o aumento da inadimplência no setor agro, fator que tem reduzido o apetite das instituições financeiras no crédito rural.
Compensando a alta esperada para o crédito direcionado, a expectativa de crescimento da carteira com recursos livres caiu de 8,1% para 8,0%, com recuo no crédito destinado às empresas (5,7%, ante 5,9%), carteira que tem apresentado menor dinamismo, em razão das condições financeiras mais apertadas, majoração do IOF e da concorrência enfrentada com as operações direcionadas e o mercado de capitais. A projeção para o crédito livre destinado às famílias também caiu, de 9,7% para 9,6%, mantendo-se, ainda assim, em patamar elevado, sustentado pelo mercado de trabalho aquecido.
“Portanto, embora a pesquisa tenha captado estabilidade na projeção de crescimento da carteira total, há uma divergência crescente entre as trajetórias esperadas para as carteiras com recursos direcionados e livres. Enquanto a primeira segue com alto crescimento, impulsionada pelos programas governamentais para as empresas, com chances reais de fechar o ano novamente com alta de dois dígitos; a segunda vai mostrando de forma mais nítida os efeitos da política monetária contracionista”, avalia Rubens Sardenberg, diretor de Economia, Regulação Prudencial e Riscos da Febraban.
“De toda forma, as projeções consolidam a perspectiva de alguma acomodação do crédito neste segundo semestre, fenômeno que já temos observado nos últimos meses”, complementa Sardenberg.
Inadimplência
A trajetória da taxa de inadimplência segue como um ponto de atenção. A projeção do indicador para a carteira com recursos livres em 2025 subiu de 5,0% para 5,1%. Essa projeção ainda é inferior ao reportado pelo Banco Central para o mês de agosto, quando a taxa ficou em 5,4%. Para 2026, a projeção do indicador mostrou leve melhora, passando de 5% para 4,9%.
Adicionalmente, 60% dos analistas consultados esperam que a inadimplência das famílias mantenha uma tendência moderada de alta nos próximos meses, mas com impacto limitado sobre a oferta de crédito.
Mercado de Trabalho
Há quase unanimidade (95%) entre os participantes de que as mudanças recentes no mercado de trabalho (como a reforma trabalhista, aplicativos de entrega) levaram a uma redução da taxa de desemprego que não acelera a inflação (NAIRU). Ainda assim, o nível atual de desemprego estaria abaixo de qualquer estimativa razoável para essa variável.
Crédito 2026
Para 2026, a pesquisa captou ligeira melhora na expansão projetada para o crédito, que subiu de 7,8% para 7,9%. Por um lado, houve revisão positiva para a carteira direcionada (de 8,5% para 9,0%) e, de outro, uma leve revisão negativa para a carteira livre (de 7,4% para 7,3%).
Inflação 2026
Com relação à inflação do próximo ano, os participantes estão divididos: 47,6% projetam uma taxa em linha com o consenso (4,3%), enquanto outros 47,6% esperam uma inflação abaixo da expectativa atual do mercado, refletindo fatores como a manutenção da política monetária em nível contracionista, a apreciação cambial e o menor crescimento global.
EUA
Quanto à política monetária nos EUA, a grande maioria dos participantes (85,7%) espera que o Fed ainda realize dois cortes de 0,25 p.p neste ano, em resposta aos sinais de moderação do mercado de trabalho norte-americano.