O Conselho Nacional de Justiça divulgou no início da madrugada desta quinta-feira, 13, dados que iluminam o flagelo da política de adoção de crianças no Brasil.
Numa ponta do Cadastro Nacional de Adoção há 26.936 casais interessados em adotar. Na outra ponta, existem 4.900 crianças e adolescentes à espera de um lar. Ou seja, o número de potenciais pais adotivos é cinco vezes maior que o de candidatos à adoção. Por que, então, os abrigos e orfanatos continuam apinhados?
A resposta está no detalhamento dos dados disponíveis no cadastro nacional, criado e administrado pelo CNJ.
Do total de casais que frequentam a fila da adoção, 9.842 (36,54%) declaram-se interessados em crianças brancas. Apenas 571 casais (2,12% do total) manifestam preferência por crianças negras. Os que dizem aceitar crianças pardas somam 1.537 (5,71%) pardas.
Outros 9.083 pretendentes à adoção (33,72%) declararam-se indiferentes quanto à raça dos futuros filhos adotivos. Juntos, os casais que manifestam preferência explícita por pardos e negros somam 7,82% do total.
O problema é que, das 4.900 crianças que aguardam por adoção, 2.272 (46,37%) são pardas e 916 (18,7%) são negras. Juntas, constituem a grossa maioria (65,07%). Ostentam a pele branca apenas 1.657 crianças e adolescentes mantidos em orfanatos –ou 33,82% do total. Há, de resto, 29 crianças indígenas e 35 asiáticas.
Considerando-se que 33,72% dos casais dizem não se importar com a raça, o problema poderia ser atenuado. Há, porém, um segundo entrave: a faixa etária. A maioria dos casais (58,95%) não admite a hipótese de adotar crianças com mais de três anos de idade. E a maioria delas tem mais de quatro anos.
Não é só: 22.341 casais (82,94% do total) torcem o nariz para a ideia de adotar grupos de irmãos, como prevê a lei. O diabo é que, do total de crianças passíveis de adoção, 3.780 (77,15%) tem irmãos. Quer dizer: se a criança tem mais de quatro anos é negra ou parda e convive com a infelicidade de dispor de irmãos, está como que condenada a não ser adotada.
Dito de outro modo: a resolução do problema depende de uma conjunção de fatores muito difícil de ser obtida. Inclui a mudança de mentalidade dos casais, a agilização dos processos judiciais e flexibilização da lei que rege as adoções.
Em resumo, seria necessário que o País experimentasse um surto de bom senso. E sensatez, como se sabe, é matéria prima escassa.
(Vinícius Barbosa Albernaz) é membro
da Coordenação Pastoral da Juventude Palmas-TO / Coordenação APNs-TO / Representante
Discente CONSEPE/UFT / Conselheiro Municipal de Juventude