A Prefeitura de Porto Nacional por meio da Secretaria Municipal da Cultura e do Turismo iniciou a revitalização de cerca de 70 mil livros da Biblioteca Pública Eli Brasiliense. O prefeito Joaquim Maia trouxe para Porto Nacional a especialista em Higienização, Restauração de Acervos Bibliotecários e Encadernação de Livros, Elzideth Pinto de Cerqueira. Ela tem formação superior em Restauração de Livros pelo Senai de São Paulo.
A profissional está fazendo, primeiramente, o trabalho de higienização dos livros. Em seguida, será a parte de restauração e encadernação dos exemplares. Tudo começa pela limpeza das primeiras 25 folhas, tanto as do começo, quanto as do final do livro, dependendo do grau de deterioração que tiver a obra.
Condição dos Livros
Os livros estão muito sujos, cheios de pó e o clima quente é desfavorável para a conservação e preservação dos mesmos. Muitos exemplares terão que ser higienizados por completo - nos cortes, capas, até o miolo.
Depois da higienização de todos os exemplares da Biblioteca, Elzideth Cerqueira fará a separação e análise de todos os livros que serão restaurados e encadernados.
“O trabalho de limpeza é feito com mais rapidez que a restauração das obras danificadas, já que esta exige uma tarefa mais minuciosa. Alguns livros estão com grande perda das páginas, por conta da umidade e do calor, que prejudicam a integridade do papel. Alguns exemplares estão com cupins e traças, envergados, e com as fibras dos papéis, inchadas”, explicou a Especialista.
Secretário explica
O secretário municipal da Cultura e do Turismo, Arnaldo Bahia, explicou que com a revitalização e reforma da biblioteca seria necessária, também, a revitalização dos mais de 60 mil livros - que é justamente o trabalho que está sendo feito - em respeito às obras literárias dos escritores que fazem parte do acervo da biblioteca.
“No início de 2020, quando o local já estiver pronto para atender ao público, as obras literárias também estejam higienizadas e restauradas, o que na verdade, uma cidade igual Porto Nacional, jamais poderia ter deixado fechar um bem tão valioso como uma biblioteca”, disse o secretário.
Processos de higienização
As pessoas que irão executar os tratamentos de higienização são chamadas de auxiliares de higienização. Elas passam por um treinamento específico quanto aos cuidados ao manusear os documentos, principalmente os mais frágeis, que precisam de cuidado e atenção, para que não corram riscos de novos danos. Outro fator importante, é ter um conhecimento razoável sobre o trabalho a ser desenvolvido, para a identificação dos agentes nocivos, o que irá agilizar e facilitar a limpeza.
Com o auxílio de um aspirador de pó (semi-industrial), pincéis, brocha, borracha e flanela, a equipe inicia a limpeza pelos cortes laterais e superior ou cabeça do livro, local onde se deposita toda a poeira em suspensão, que existe dentro de uma área de guarda do livro.
Inicialmente é feita a eliminação mecânica de todas as sujidades que se encontram nos livros, documentos e nos agentes considerados agressores, tais como clipes oxidados ou não, excrementos de insetos, grampos metálicos, elementos generalizados utilizados como marcadores de folhas, poeira, partículas sólidas, e todos os elementos espúrios à estrutura física dos documentos.
Restauração e encadernação
A restauração só é feita nas obras (livros), após ser estudado o estado de conservação. É isso que vai ajudar a equipe de profissionais a desenvolver o melhor tratamento - analisando com calma o estado geral de cada obra.
O restauro não faz com que os livros fiquem como se tivessem acabado de sair da loja. A ética dos restauradores é respeitar a história de vida das obras. O interesse não é para que pareçam novas, mas que “vivam” um pouco mais. Os profissionais buscam deixá-las o mais próximo do original, mas normalmente não se chega a esse ponto. O ideal é que as pessoas percebam a intervenção profissional nas obras literárias e conservem-nas.
“Todos acham que vamos resolver os problemas dos livros, fazendo com que eles fiquem até com cheiro de novos, mas não é o que acontece. Nosso deve é respeitar as características de cada obra e fazer o possível para que dure mais tempo”, explicou a especialista Elzideth Cerqueira.
A primeira etapa do processo é fazer uma ficha de identificação com o nome da instituição, título do livro e autor. Além disso, anotar que tipo de material é aquele – verificar o que é uma característica física e o que é um problema.
É feito também um registro fotográfico do estado de conservação da obra, para ter as imagens do antes e depois, como comparação e conhecimento das intervenções feitas. Depois disso, as próximas fases vão depender das necessidades de cada livro. Cada livro é um livro e tem diferentes etapas de tratamentos.
O papel utilizado nas restaurações das obras é japonês, diretamente importado do Japão, tem diversas gramaturas e são próprios para conservação e restauração, feitas manualmente ou maquinalmente. É produzido de forma ecológica com fibras de Kozo, Gampishi, Mitsumata e Cânhamo.
O papel japonês Maruishi tem boa resistência e é fino, então a equipe consegue fazer a consolidação do rasgo sem prejudicar a leitura. Isso utilizando a cola de amido, que tem boa adesividade e visando a conservação do papel.
Quando o problema está na estrutura, são necessários processos de restauro, mais demorados e trabalhosos. Outra grande dificuldade é quando os leitores das obras colam fita durex em alguma página, pois a cola da fita penetra no papel, causando manchas de difícil remoção.
Os materiais utilizados na restauração também são bastante selecionados. Há a necessidade de utilizar produtos que possam ser removidos e que tenham PH neutro, não contendo ácidos. Materiais que podem ser utilizados e que não vão afetar a obra posteriormente, pois se visa a conservação dos livros, tentando mantê-los por mais tempo.
Se os livros estiverem com os cadernos soltos, a equipe de restauração vai desmontar a costura e restaurar caderno por caderno e folha por folha, depois irá costurar e reencadernar, se houver a necessidade de uma nova encadernação. Caso contrário, será feita a restauração da encadernação original.
Por que higienizar?
Frequentemente a higienização de livros antigos é desvalorizada por ser um tipo de tratamento cujos resultados não são facilmente visíveis. Por esse motivo, a sua remoção é fundamental para a preservação de qualquer livro ou documento.
É recomendado que se faça com a regularidade possível, um trabalho de higienização de todos os volumes que se pretende preservar.
Este tipo de intervenção ajuda a remover partículas nocivas da superfície, tal como poeiras, fungos e dejetos de insetos, que de outra forma podem ficar entranhadas nos materiais.
Métodos de higienização
Os métodos de higienização utilizados deverão ser escolhidos de acordo como estado de conservação do livro ou documento.
Sempre que possível, é importante que se faça a limpeza com métodos secos, por ser mais seguro para o material a intervencionar. Limpeza por via úmida deve ser feita apenas por técnicos especializados e apenas nos casos em que a limpeza por via seca não tenha sucesso, já que o papel fica mais suscetível de sofrer danos.
A Biblioteca Eli Brasiliense foi edificada no local do Antigo Mercado Municipal, na Rua Bartolomeu Bueno, no Centro da cidade. Passou a chamar Professor Eli Brasiliense através da Lei n° 866 de 12 de Março de 1980.