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Opinião

Foto: Divulgação

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O atual cenário político parece indicar que a eleição presidencial de 2022 será a repetição de 2018, polarizada entre dois candidatos defendendo duas linhas ideológicas distintas, sem a discussão de propostas ou programa de governo de interesse do país.  

Dizem que as recentes decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) reabilitaram Lula como candidato. Entendo que não, o Supremo decidiu apenas a questão legal, jurídica. A ressurreição do petista como concorrente deve-se ao atual presidente, ao governo Bolsonaro de tantos desacertos e decisões despropositadas. É a fraqueza da presente administração que dá força a seu mais provável oponente.

A postura do presidente Bolsonaro, suas posições e declarações nas redes sociais causam sobressaltos diários e muitas vezes provocam pequenas crises no governo com negativos reflexos externos. A incoerência e o desastrado trato no enfrentamento da pandemia da Covid-19 provocam enorme desgaste na imagem do governo e principalmente do Brasil. Sua política externa conseguiu algo incrível, ficar mal com a China e com os EUA, dois dos mais importantes parceiros comerciais. Bolsonaro vem constantemente mudando de posição. Para tentar brecar sua crescente impopularidade fechou acordo político com o Centrão, de quem está literalmente refém. Esse grupo vive à sobra de governos para negociar e tirar vantagens, como acaba de ocorrer na aprovação do orçamento, algo inaceitável em tempos de crise. O governo Bolsonaro se assemelha ao de Dilma Rousseff, que para conseguir a reeleição deixou o país quase quebrado. Igual herança inadministrável será legada pelo atual.

Enquanto isso, livre do obstáculo da inelegibilidade, o ex-presidente Lula já iniciou campanha que ele mesmo promete ser cada vez mais ostensiva. Inegavelmente, seu governo teve alguns méritos, alguns pontos positivos. Porém, foi sob seu comando que se instalou o maior esquema de corrupção da nossa história. Entretanto, para boa parte da opinião pública a Justiça ‘passou a borracha’ em tudo.

Diante disso, o País corre o risco de um processo eleitoral dicotômico, campanha dividida entre direita e esquerda, o que efetivamente não é politicamente salutar. A disputa eleitoral pressupõe o debate de propostas de governo, com as quais os candidatos se apresentam ao julgamento do eleitor. A polarização fundada em ideologia e personalismo de nomes não contribui para os avanços necessários ao enfrentamento e superação de desafios dos novos tempos.

Para evitar que isto ocorra é imprescindível uma terceira via confiável. Terceira via não quer dizer apenas um nome diferente de Lula ou de Bolsonaro, mas um líder comprometido com uma causa maior, um efetivo plano de governo capaz de unir todos os segmentos influentes em torno de um grande projeto nacional para conquistar a opinião pública, sensibilizar e agregar os brasileiros descontentes com tantas incertezas e que almejam um futuro melhor para si e para seu país.

Entendo que a liderança que encarnar essa posição deve estar respaldada por uma consistente agenda, um verdadeiro Plano Nacional de Governo. Portanto, é urgente que se promova um amplo entendimento político agregando os representativos setores organizados da sociedade para formatar esse conjunto de propostas. Com um projeto de tal dimensão será possível quebrar a bipolarização já no primeiro turno das eleições, e com um candidato defendendo essa bandeira e sob ela unir as forças políticas haverá condições de êxito também no segundo turno.

Se deixarmos passar esta oportunidade, poderão ser mais quatro anos de retrocesso e de estagnação econômico-social e política.

Nos últimos governos o Brasil não teve planejamento estratégico, programas de médio e longo prazo.  Nas eleições, o eleitorado tem sido compelido a decidir ‘contra um ou contra outro’ candidato, não em favor de ideias e metas.

É oportuno lembrar que o próximo governo terá pela frente o desafio de promover a reconstrução de todos os setores agudamente atingidos pela atual pandemia. Terá de reorganizar a economia e o serviço de saúde pública, colocar em prática robusta política de geração de emprego e renda, atender crescentes demandas sociais e, acima de tudo, restabelecer o ânimo e a confiança dos brasileiros.

*Luiz Carlos Borges da Silveira é médico, ex-ministro da Saúde, ex-secretário de Ciência e Tecnologia do Governo do Estado do Tocantins e ex-secretário do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Emprego do Município de Palmas-TO