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Opinião

Borges da Silveira é médico e ex-ministro da Saúde

Borges da Silveira é médico e ex-ministro da Saúde Foto: Arquivo Conexão Tocantins

Foto: Arquivo Conexão Tocantins Borges da Silveira é médico e ex-ministro da Saúde Borges da Silveira é médico e ex-ministro da Saúde

Enquanto a maioria dos países com comando e diretrizes responsáveis preocupa-se em discutir e planejar estratégias para superar os efeitos da pandemia, por aqui o foco é outro e ocorrem atitudes pueris por parte de políticos e membros dos poderes constituídos.

O atual quadro nacional é preocupante, mostrando antagonismos explícitos, falta de respeito mútuo e baixo nível nos relacionamentos institucionais.

O chefe do Executivo não refreia o ímpeto provocativo, membros do Judiciário ultrapassam os limites da magistratura e o Legislativo, preocupado com eleições e candidaturas, assiste passivamente a usurpação de suas prerrogativas.

Basta analisar um, dentre muitos episódios, para se chegar à conclusão de que as autoridades maiores perderam a noção da responsabilidade e do bom senso: o caso do deputado Daniel Silveira é o exemplo perfeito.

Nesse episódio, um ministro do Supremo Tribunal Federal desvirtuou o ordenamento jurídico e se colocou na condição de vítima, investigador, acusador, julgador e executor da sentença. Não se trata de discutir o mérito da questão, da culpabilidade ou não do deputado, mas sim o atropelo do processo e a extremada decisão. Isso é preocupante precedente. O Congresso, que tem poder para fiscalizar o Judiciário, demonstrou leniência ao não reagir à invasão de sua prerrogativa de cassar mandato parlamentar. E o presidente da República revidou com o Decreto de Indulto em evidente atitude de desforra. O instituto da graça, ou indulto, é legítimo, constitucional e exclusiva competência presidencial, mas nessa circunstância ficou clara a intenção de confronto e provocação com celebração no Palácio presidencial e entrega de placa com a cópia do decreto.

Tudo isso lembra as típicas briguinhas entre meninos de escolas.

Preocupante é também a percepção de que o panorama político-eleitoral não oferece nenhuma perspectiva de mudança. Em ano de eleições gerais o ideal seria se ver as lideranças políticas e os dirigentes partidários apresentando propostas de governo, promovendo o debate de ideias, de compromissos. Não é isso que está acontecendo na campanha já em curso.

A chamada terceira via, que deveria surgir da união em torno de um amplo projeto para o Brasil, um verdadeiro plano de metas, gira em torno de caciques partidários que disputam o privilégio de ser o nome rotulado como alternativa contra a polarização que a cada dia se torna mais real. Isso quer dizer que se repetirá o pleito passado, o eleitor votará não num programa de governo, mas sim contra um dos candidatos, abrindo caminho para o voto útil. Os dois principais postulantes à Presidência da República são avaliados pela rejeição, que oscila em cerca de 50%. Será a opção de escolha entre o menos pior.

A movimentação de campanha mostra que não há interesse em mudanças, as viciadas práticas continuam, como a falta de coerência nas alianças e coligações. Antagonistas que se engalfinhavam nos discursos e troca de acusações agora estão unidos, sem mínima identidade ideológica, levados apenas e unicamente pela sede de poder.

O atual presidente também retorna à ‘velha política’, que antes condenava. Na busca da reeleição descamba para o populismo, faz acordos eleitoreiros e abre os cofres como Dilma Rousseff o fez e que acabou provocando endividamento e retrocesso econômico com danosos reflexos sentidos por vários anos seguidos.

Isso leva a recordar a memorável frase de Tancredo Neves: “Há políticos com P maiúsculo, os que pensam nas próximas gerações, e há os políticos com p minúsculo que só pensam nas próximas eleições”.

E assim sendo, o País perderá mais uma oportunidade de promover mudanças e implementar as tão necessárias reformas. Com certeza, serão mais quatro anos perdidos.

É lamentável que este País de enormes potencialidades, de vastas riquezas minerais e naturais e de reconhecida capacidade empreendedora tenha seu futuro comprometido e não consiga vislumbrar luz no fim do túnel.

*Luiz Carlos Borges da Silveira é médico, ex-ministro da Saúde, ex-secretário de Ciência e Tecnologia do Governo do Estado do Tocantins e ex-secretário do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Emprego do Município de Palmas-TO