Parece milagre, colher cada vez mais ocupando cada vez menos espaço. O agronegócio brasileiro vem conseguindo constante aumento da produtividade aliando ciência, tecnologia e boas práticas. Assim, pode produzir mais alimentos de qualidade para o mundo, agregar divisas para o país e preservar os recursos naturais.
A evolução produtiva, notadamente nas duas últimas décadas, pode ser constatada desde a fruticultura no Cerrado, Vale do São Francisco e outras regiões não tradicionais até o carro-chefe das exportações, a soja, ou ainda na produção de proteína animal representada pela suinicultura, avicultura e pecuária.
Todavia, apesar dos incontestáveis números positivos, o agronegócio brasileiro continua sofrendo sistemático movimento de sofismas e acusações sem mínimo embasamento. Entre as maldosas inverdades assacadas contra o mais importante segmento da economia nacional surge sempre um tema sensível à opinião pública – o meio ambiente. Até a ocorrência de incêndios sazonais e espontâneos em áreas florestais, notadamente no entorno da Amazônia, é debitada ao setor agrícola, assim como o desmatamento é atribuído à pecuária.
Mas, o agronegócio está preocupado em trabalhar, produzir e não tem tempo para rebater a caluniosa campanha, como bem observou o professor José Otávio Menten, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS): "Essas pessoas, ou mal-informadas ou por vontade ideológica contra o agro, acabam sendo mais eficientes na comunicação do que os técnicos, os cientistas que estão realmente na lida do agro diariamente. A contribuição dos agricultores para produção de alimentos, de fibras e de energia renovável, deveria ser motivo de orgulho para todo brasileiro, independente de visão ideológica ou partidária."
Para demonstrar cabalmente o estágio atual do agronegócio brasileiro, apresento a seguir alguns exemplos, com base em dados e números de organismos oficiais e privados como Embrapa, Conab, IBGE, cooperativismo, séries históricas consolidadas da produção de alimentos, inclusive o importante relatório denominado Tecnologias Poupa-Terra, da Embrapa.
A produção de uvas para exportação no Vale do São Francisco passou por transformação. As novas variedades dobraram a produtividade média por hectare (de 25 para 50 toneladas), com a possibilidade de uma segunda safra anual. No geral, a fruticultura brasileira teve desempenho positivo em produtividade: laranja, banana, manga, limão, melancia apresentam redução de área plantada e aumento da produção. As variedades de melões aumentaram a produção de 14 toneladas por hectare nos anos 90 para 29 toneladas por hectare em 2021.
Mas, o carro-chefe das lavouras do agro é a soja. O Brasil é o maior produtor mundial, ocupando apenas 4,5% do seu território para cultivá-la. Em termos de efeito poupa-terra, são 71 milhões de hectares. Considerando-se outros 15,8 milhões de hectares economizados pela intensificação do uso da terra, são 86,8 milhões de hectares preservados pela evolução tecnológica. Mais um exemplo de sustentabilidade no campo.
O Brasil encerrou 2021 com embarques de 86,63 milhões de toneladas de soja, ante 82,3 milhões no ano anterior, um novo recorde para o país. As exportações de soja do Brasil deverão totalizar 91,5 milhões de toneladas em 2023, de acordo com a previsão que faz parte do quadro de oferta e demanda brasileiro, divulgado pela agência Safras & Mercado. O volume indica um aumento de 19% entre uma temporada e outra, acima dos 77,2 milhões previstos para 2022.
De acordo com a Embrapa, o milho, segunda commodity brasileira, quadruplicou o volume colhido em três décadas, alcançando o total de 100 milhões de toneladas na safra 2019/20, com a produtividade passando de 1.841 kg/ha em 1990 para 5.520 kg/ha. Para produzir os 102 milhões de toneladas colhidos em 2020 com as produtividades de trinta anos atrás, seriam necessários 55,5 milhões de hectares, mas foram utilizados somente 18,5 milhões. O efeito poupa-terra foi de 37 milhões de hectares.
O Brasil é o maior produtor e exportador de café, e segundo maior mercado consumidor. Nossa participação na produção mundial passou de 19% para 37%, entre 1997 e 2020. A produtividade passou de 8 para 33 sacas por hectare.
Na pecuária, a Embrapa projeta que o Brasil poderá até dobrar a produção de carne bovina nas próximas décadas sem necessidade de abrir novas áreas.
Entre os anos de 2004 e 2019 a área com pastagens praticamente não se alterou no período, em torno de 160 milhões de hectares. O que aumentou foram as pastagens plantadas em detrimento das áreas com pastagens naturais, indicando um maior investimento em tecnologia.
Nas cadeias produtivas de frangos e suínos, os avanços tecnológicos das últimas décadas evitaram a demanda por 2,55 milhões de hectares adicionais para produção de milho e soja no país. O ganho se deu pela otimização da conversão alimentar dos grãos em carne. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frango, com 14,2 milhões de toneladas (2020) e maior exportador mundial, com 4,2 milhões de toneladas.
Na carne suína, o país ocupa a quarta posição como produtor (4,2 milhões de toneladas) e exportador (1,01 milhão de toneladas). As duas cadeias geram 4,2 milhões de empregos diretos e indiretos. O frango brasileiro, climatizado por fontes energéticas renováveis, é produzido com nível de emissão de dióxido de carbono (CO2) 45% inferior ao frango inglês e 50% menor que o frango francês; 80% de toda a produção é feita no Sul e Sudeste, fora do bioma amazônico. O sucesso se deve em parte ao melhoramento genético, nutrição, sanidade, manejo e ambiência.
Todavia, de todos esses informes positivos, o mais importante é que ainda há espaço para mais ganhos de produtividade, dizem os técnicos e os produtores. Explicam que uma nova fronteira agrícola, em termos de produtividade, foi aberta pelo sistema de Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), segundo o qual o produtor intensifica o uso da terra e passa a colher madeira, grãos e carne bovina numa mesma área. A meta é chegar até 2030 com o sistema de integração implantado em 35 milhões de hectares - atualmente já são 18,5 milhões.
Estes números e colocações servem de eloquente resposta aos movimentos pseudoambientalista, orquestrados com viés político-ideológico contra o setor produtivo mais importante da economia brasileira, que representou 48,3% do PIB no primeiro semestre deste ano e cerca de US$ 80 bilhões no total das exportações no mesmo período.
O agro brasileiro pratica a sustentabilidade recuperando áreas degradadas e utiliza técnicas para evitar degradação, além de prevenir ações predatórias no uso dos recursos naturais com programas e projetos de proteção nas propriedades agropecuárias e em áreas nativas.
O estudo denominado Tecnologias Poupa-Terra, da Embrapa, mostra com números e resultados essa moderna política técnico-cientifica dos produtores nacionais, evidenciando que em cada cultivo agrícola os avanços estão ligados a adoção massiva de tecnologias, boas práticas e processos modernos de produção.
Espero haver explicado e esclarecido a quem ainda queira, por desinformação ou má-fé, denegrir o setor que ao contrário do que é apregoado, tem enorme participação no crescimento econômico-social do país. Portanto, a contribuição da agricultura na produção de alimentos, de fibras e de energia renovável é motivo de orgulho para todo brasileiro, independente de visão ideológica.
*Luiz Carlos Borges da Silveira é médico, ex-ministro da Saúde, ex-secretário de Ciência e Tecnologia do Governo do Estado do Tocantins e ex-secretário do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Emprego do Município de Palmas-TO