Os dados do Deter, sistema de monitoramento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), divulgados nesta sexta-feira, 8, mostram que o Estado do Tocantins registrou 158 km² sob alerta de desmatamento em fevereiro de 2024, aumento de 136% em relação ao mesmo mês de 2023.
No acumulado do ano Deter, calculado entre os meses de agosto de 2023 e fevereiro de 2024, a destruição no Estado foi de 974 km², três vezes maior do que no período anterior, quando foram desmatados 285 km². O cenário alarmante no Maranhão segue o avanço da destruição no bioma Cerrado.
Segundo os dados do Deter, houve aumento de 19% nos alertas de desmatamento no Cerrado em fevereiro de 2024, em comparação ao mesmo mês de 2023. A Amazônia segue na contramão, com uma queda de 30% em relação a fevereiro do ano passado.
Nos últimos meses, os números do Deter têm mostrado que estão dando resultado os esforços de combate ao desmatamento na Amazônia, mas que é preocupante a transferência da destruição para o Cerrado.
No acumulado do ano Deter, que vai de agosto de 2023 a fevereiro de 2024, a Amazônia registrou 2.350 km² sob alerta de desmatamento, uma queda de 56% em relação ao mesmo período do ano anterior. Na contramão, foram detectados 3.798 km² de vegetação nativa perdida no Cerrado entre agosto de 2023 e fevereiro de 2024, um crescimento de 63%.
“Temos acompanhado com grande preocupação as tendências divergentes de desmatamento entre a Amazônia e o Cerrado. Pela fragilidade da legislação e dinâmica dos arranjos produtivos, o Cerrado tem sofrido perdas que dificilmente serão revertidas. O bioma é rico em espécies endêmicas, relevante pela quantidade de bacias hidrográficas e único pela diversidade de povos e tradições”, afirma Mariana Napolitano, diretora de estratégia do WWF-Brasil.
No Cerrado, o Código Florestal é mais permissível que na Amazônia, por isso uma parte significativa da destruição tem autorizações legais fornecidas por governos municipais e estaduais. Mas os efeitos da devastação do bioma são preocupantes.
“O desmatamento do Cerrado contribui para o agravamento da crise climática que já nos afeta diretamente com o regime irregular de chuvas, secas históricas, ondas de calor extremas e enchentes. Importante salientar que sem Cerrado não existe Amazônia, o desequilíbrio de uma área certamente afetará os serviços ambientais de outra”, completa Napolitano.
Impactos no Agro
O Cerrado, tradicionalmente conhecido com a caixa d'água do Brasil, é o bioma prioritário para a segurança hídrica do país, porque contribui com cerca de 40% de toda a água doce do Brasil. É lar de cerca de 5% de todas as espécies do planeta, caracterizando-se como um dos lugares mais biodiversos da Terra.
No bioma, a principal causa do desmatamento é o avanço da agropecuária, que, por sua vez, já tem sentido as consequências da crise climática. “Só em 2023, os pedidos de recuperação judicial dos produtores rurais cresceram 535% em relação a 2022, por perdas nas plantações e aumento de custos. Manter a vegetação nativa e recuperar áreas desmatadas são ações prioritárias que o setor agro precisa implementar, se quiser manter a posição de liderança na balança comercial”, explica Ana Crisostomo, especialista em Conservação e líder da estratégia de conversão zero do WWF-Brasil.
“Por comportar oito das 12 principais bacias hidrográficas do país, o Cerrado garante oferta de água tanto para o consumo humano quanto para a saúde das lavouras. Ao reduzir o desmatamento, estamos automaticamente colaborando para o equilíbrio climático, para a manutenção das nascentes e qualidade dos rios que favorecem o ciclo das chuvas. Não é por acaso que áreas desmatadas vem apresentando atraso do início da estação chuvosa afetando diretamente as safras agrícolas. Pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) apontam que a perda exagerada de áreas naturais já reduziu em média 12% da produtividade de grãos do país. Agora, muito mais que antes, é urgente que o setor agropecuário assuma um compromisso maior de conservação ambiental”, afirma a especialista. (AViV/AI)