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Saúde

Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Muito se fala sobre como a terapia hormonal pode ser perigosa em alguns casos, entretanto, em outros, ela é um caminho necessário a ser percorrido. Para as pessoas transgênero, o impacto da reposição é visto como uma recuperação da dignidade. Porém, não é possível descartar os problemas cardiovasculares que podem surgir em longo prazo nessa população, principalmente quando ela não é assistida por um médico especializado.

Segundo um estudo feito pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), pessoas transgênero que estão em acompanhamento há mais de uma década apresentam uma quantidade de testosterona semelhante à de pessoas cisgênero. Além disso, foi possível verificar um aumento nos glóbulos vermelhos (hemácias), na pressão arterial sistólica e diastólica.

“O que chama atenção em uma pesquisa como essa é como o coração reage a esses hormônios. O uso da testosterona por homens transgênero pode acarretar na rigidez arterial, responsável por complicações cardiovasculares como a insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral e infarto agudo do miocárdio. Inclusive, foi detectado um aumento de infartos nessa população em relação aos homens cisgênero. As doenças cardíacas ainda são a principal causa de morte no mundo e, todos os anos, cerca de 400 mil pessoas vão a óbito por causa dessas patologias”, afirma Dr. Carlos Hossri, cardiologista do Hcor.

Nas mulheres transgênero, também foi possível observar um aumento em acidentes vasculares cerebrais e tromboembolia, quando comparadas com as pessoas cisgênero, no geral. “Esse aumento depende muito de como o estrogênio é administrado e de outras causas, por exemplo, câncer de mama e doenças cardiovasculares já pré-existentes, ou seja, diabetes, hipertensão e colesterol alto.”

Terapia de reposição hormonal é sempre ruim?

A resposta poderia ser resumida a um simples ‘não’, mas existem vários fatores a serem considerados na hora de decidir qual hormônio utilizar. Geralmente, o estrogênio tem efeito cardioprotetor de diversas formas, seja atuando como vasodilatador ou reduzindo substâncias vasoconstritoras, ou até mesmo prevenindo placas ateroscleróticas e promovendo menos obesidade central, quando falamos de mulheres cis.

“É importante ressaltar que, em mulheres cisgênero, o estrogênio tem essa uma função reguladora em diversos órgãos: mantém a saúde do sistema reprodutor feminino e a sustentação da bexiga, modula o aprendizado e a memória no sistema nervoso central, inibe o desgaste ósseo e protege o coração. A progesterona, por sua vez, tem efeito sedativo, ansiolítico, analgésico, o que explica a insônia e as alterações de humor durante a menopausa”, aponta Dra. Andressa Teixeira, ginecologista oncológica do Hcor.

Em pessoas transgênero, o estrogênio é usado em doses altas, o que pode causar trombose, derrame e embolia pulmonar. A grande maioria dessas mudanças é percebida aos poucos, entretanto, o acompanhamento médico é essencial para detectar alterações precoces e intervir com o tratamento mais adequado.

“Apesar dos riscos, devemos sempre levar em conta que terapia de reposição hormonal não é uma vilã. Quando administradas com cautela e com respeito ao corpo do paciente, ela pode ser benéfica. Entretanto, jamais pode ser utilizada por conta própria e toda a transição deve ser acompanhada por uma equipe multidisciplinar, que ajuda e auxilia em todas as esferas físicas e psicológicas da pessoa”, reforça a especialista.