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Análise Econômica

A inflação acumulada em 12 meses dá sinais de alguma acomodação. O mesmo ocorre com as expectativas de inflação do mercado. Sem dúvida, trata-se de um alívio frente ao atual aperto monetário. Uma análise atenta dos números, entretanto, demonstra que esse alívio decorre principalmente de preços de commodities, preços administrados e apreciação cambial, entre outros fatores independentes da taxa de juros. Os preços de serviços, justamente aqueles que deveriam refletir o ciclo econômico, seguem acima do teto da meta de inflação e em aceleração.

O que justifica esse disparate entre taxas de juros e a inflação de serviços? Parte da explicação encontra-se na indexação de preços de serviços à inflação passada, prática comum em aluguéis, entre outros. Isso torna os preços de serviços menos sensíveis a atividade econômica. Outra parte da explicação está no aquecimento do mercado de trabalho. Pesquisas do IBGE, entre outras, revelam que a subutilização da força de trabalho está em seu menor nível histórico, conforme figura abaixo. Os efeitos sobre a renda real conferem impulso aos preços de serviços em razão de maiores custos salariais na prestação de serviços e pela demanda amparada pela massa de rendimentos.

É verdade que o emprego e a renda reagem defasadamente ao ciclo econômico. Mas como explicar o aparente antagonismo de seus movimentos? Estudos do Banco Central do último Relatório de Política Monetária buscaram trazer algumas explicações. Uma primeira conclusão desses estudos é a de que o novo perfil da população trabalhadora em termos de sexo, escolaridade e faixa etária favorecem a taxa de participação e o nível de ocupação. Uma segunda conclusão aponta que o advento do trabalho por meio de plataformas digitais proporcionou uma expansão extraordinária da quantidade de trabalhadores, com impactos positivos sobre o mercado de trabalho.

O que se conclui é que a melhora dos indicadores de emprego e renda observados nos últimos tempos são estruturais, resultantes de fatores demográficos e tecnológicos, e não apenas conjunturais. Há também mudanças regulatórias, com a Lei das Terceirizações (Lei 13.429/2017). Este contexto justificaria movimentos antagônicos entre o ciclo econômico e o nível de ocupação. Portanto, a depender dessas mudanças estruturais do mercado laboral e da ausência de ganhos adicionais de produtividade, a inflação de serviços tende a ficar elevada por mais tempo do que seria de se esperar. Nesse contexto, o alívio da política monetária pode estar mais distante do que gostaríamos.

Fed corta juros nos EUA; fluxo para emergentes beneficia ativos brasileiros

Em setembro os índices acionários estenderam os ganhos no ano, impulsionados pelo corte dos juros americanos pelo Federal Reserve devido aos dados fracos no mercado de trabalho, favorecendo o fluxo de recursos de estrangeiros para países emergentes.

O Ibovespa avançou 3,4% em setembro aos 147 mil pontos, com entrada de recursos de estrangeiros de R$ 4,8 bilhões no mês, aumentando o fluxo acumulado no ano para R$ 26 bilhões. O dólar recuou 2,1% frente ao Real a R$ 5,31. O índice Nasdaq avançou 5,6% e o S&P500 3,5%. Já o índice do dólar DXY permaneceu praticamente estável a 97,80 e a curva de juros americana devolveu prêmios na maioria dos vértices (vértice de 10 anos a 4,12% no final de setembro, em relação a 4,23% no final de agosto).

Nos EUA o Nonfarm Payrolls referente a agosto indicou a criação de 22 mil postos de trabalho (abaixo dos 75 mil esperados), aumento da taxa de desemprego de 4,2% para 4,3% e da taxa de participação de 62,2% para 62,3%. Ao mesmo tempo os dados de junho foram revisados de um ganho de 27 mil postos para uma perda de 13 mil postos, pavimentando o caminho para o corte dos juros pelo Federal Reserve em 25 pontos base para 4,25% a.a.. Os chamados dot-plots (projeções para a Fed Funds Rate em diferentes pontos futuros no tempo) apresentaram maior dispersão, indicando mais dois cortes ainda em 2025.

No Brasil, os índices de preços de alta frequência tem sido beneficiados pelo recuo do dólar frente ao Real, contribuindo para a devolução de prêmios na curva de juros na parte curta. Na frente política a recuperação de popularidade do governo persiste a despeito dos ruídos referentes às relações entre EUA e Brasil, podendo motivar um movimento de realização de lucros.

Em relação à performance dos fundos administrados, no mercado de renda fixa observamos o fechamento de até 20 pontos base nos vértices intermediários para longos da curva de juros nominais, com a curva de juros reais permanecendo nos mesmos patamares. Seguimos atuando com menor volatilidade dos fundos, operando ativamente no controle de riscos e aproveitando oportunidades em operações de arbitragem e trades relativos. Na renda variável, a carteira de large caps avançou 3,99% no mês (benchmark +3,47%) e a carteira de small caps avançou 1,03% no mês (benchmark +1,58%). Destaque positivo no mês para o setor de mineração & siderurgia e destaque negativo para o setor de agro.

*Luis Afonso Lima é chefe de Análise da MAPFRE Investimentos.