A escalada da violência em 2025 evidenciou o que há muito tempo o Brasil vem sentindo: o crime organizado deixou de ser um problema localizado. Com tentáculos que alcançam diversas regiões, essas organizações passaram a operar com estrutura nacional, ocupando territórios, infiltrando-se em instituições e atuando em frentes que vão do tráfico de drogas e armas a golpes digitais e assassinatos por encomenda. Em estados como São Paulo, Amazonas e Bahia, episódios recentes expuseram o grau de articulação dessas redes criminosas.
Esse cenário se amplia quando olhamos para o ambiente digital. A insegurança virtual também cresceu, e seus efeitos são cada vez mais diretos sobre a população. Entre 2023 e 2024, os crimes cibernéticos aumentaram 56%, segundo dados oficiais. Golpes por mensagem, vazamento de dados e fraudes financeiras se tornaram parte da rotina, revelando a necessidade urgente de o Estado estruturar melhor sua atuação para conter essas novas modalidades de crime.
Diante desse panorama, cresce a necessidade de uma resposta mais coordenada. Hoje, cada estado adota seu próprio modelo de registro e investigação, o que dificulta o compartilhamento de dados entre as polícias e limita uma ação nacional integrada. Enquanto as organizações criminosas se articulam em rede, o poder público continua a responder de forma fragmentada. A Proposta de Emenda à Constituição da Segurança Pública, propõe a criação de um padrão nacional para registro de ocorrências e troca de informações, o que pode representar um avanço significativo na integração entre os órgãos de segurança. Mas é preciso cuidado. O Brasil é um país de dimensões continentais, com realidades regionais muito distintas. A centralização excessiva pode comprometer a autonomia das polícias locais e dificultar respostas adequadas a problemas específicos de cada território.
Além das estruturas e sistemas, é fundamental investir em quem atua na ponta. Profissionais da segurança pública lidam diariamente com risco, pressão e responsabilidades, mas são pouco ouvidos nas decisões que moldam suas carreiras. Ao mesmo tempo, a relação com a sociedade segue marcada por ruído, o que compromete a confiança mútua e a colaboração para sanar esse problema que é de todos.
Durante o Seminário CNSP 2025, a Associação dos Oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo (AOPM) apresentou uma proposta voltada justamente para melhorar essa relação. O projeto Time de Especialistas organiza oficiais para atuarem como porta-vozes nas áreas de segurança pública e bombeiros, buscando informar melhor a população sobre o trabalho realizado, os desafios enfrentados e o papel do servidor nesse campo. É um exemplo de como a aproximação entre forças de segurança e sociedade pode contribuir para o fortalecimento da política pública e da valorização profissional.
A CNSP entende que combater o crime organizado exige mais do que medidas pontuais. É necessário planejamento, articulação entre os entes federativos e valorização de quem está na linha de frente. Fortalecer a segurança pública passa por servidores respeitados, estruturas integradas e diálogo com a população. Esse é o caminho para garantir um Estado mais eficiente, justo e comprometido com os direitos e a proteção da sociedade.
*Antonio Tuccilio é presidente da Confederação Nacional dos Servidores Públicos.