Para frear o crescimento silencioso de casos de sífilis congênita no Tocantins, como mostra estudo da situação epidemiológica da doença, a Secretaria de Estado da Saúde está elaborando plano estratégico para redução da forma congênita da doença até 2019. Conselhos e entidades representativas também estão sendo convidadas a colaborar no planejamento de ações de vigilância e prevenção da doença nos 139 municípios tocantinenses, que serão executadas a partir de 2017. A intenção é localizar e tratar precocemente gestantes com sífilis e evitar a transmissão da doença da mãe para o feto. A forma clássica da doença é sexualmente transmissível e pode causar abortos ou malformações em bebês.
Segundo a série histórica de sífilis congênita no Estado, em 2009 o total de 56 casos foram notificados; em 2010, 65 casos; em 2011, 86 casos e no ano seguinte, 90 casos. Em 2013 notificaram-se 127 casos; em 2014, foram 151 casos; e em 2015, 228 casos de sífilis congênita. Em 2016, de janeiro a agosto, 162 casos foram notificados no Estado, e o número já supera as infecções registradas no mesmo período do ano passado (152).
“A sífilis é uma das grandes causas de abortamento. São várias as sequelas da doença ao feto, desde deformidades ósseas, neurológicas e também cardiovascular”, alerta o médico especialista em doenças tropicais do Hospital Geral de Palmas (HGP), Alexandre Janotti. Segundo o médico, o tratamento precoce da grávida é essencial. “A ideia do tratamento é impedir que o feto seja infectado e que seja um tratamento eficaz, se você conseguir garantir isso e terminar o tratamento até 30 dias antes do parto, pode-se prevenir a transmissão ao feto”, acrescenta.
Para os casos em que o diagnóstico for tardio e não for possível a conclusão do tratamento 30 dias antes do parto, é preciso acompanhamento especial desde o nascimento para que o bebê inicie o tratamento logo, explica a enfermeira Iarllene Dourado, da Gerência de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e Hepatites Virais do Estado.
Adesão do parceiro
A enfermeira ressalta que somente o diagnóstico precoce e a adesão da gestante e seu parceiro ao tratamento garantem a prevenção da transmissão vertical da doença, isto é, da mãe para o bebê durante a gestação. “O tratamento ideal é realizado pela gestante e pelo parceiro. Se só a gestante adere ao tratamento ela corre o risco de se tratar e ser infectada novamente”, diz Iarllene. “Como toda infecção bacteriana, não há imunização plena. Bactéria você pode pegar quantas vezes for exposto”, completa Janotti o alerta.
Para evitar que isso volte a ocorrer, a recomendação é que o casal busque o teste rápido na sua unidade de saúde de referência. Lá, o tratamento contra sífilis também está disponível totalmente e totalmente gratuito. O teste rápido é realizado com gotas de sangue retiradas do dedo e oferece resultado em até 25 minutos.
Transmissão e sintomas
A forma clássica da sífilis é transmitida através do contato sexual. Entre os principais sintomas da doença são surgimento de ferida, geralmente única, no local de entrada da bactéria, seja o pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca, ou outros locais da pele. Em geral a ferida aparece entre dez e 90 dias após o contágio e não causa dor nem coceira. Também podem surgir caroços na virilha. O tratamento, em média, dura três semanas.
A sífilis congênita preocupa porque pode trazer sequelas quando transmitida de mãe para filho, o que pode ser prevenido se a mulher iniciar o pré-natal rapidamente, realizar todos os exames recomendados e completar o tratamento, assim como seu parceiro. “Se a mãe pegou a sífilis no primeiro trimestre essa criança tem grandes chances de ter problemas neurológicos, o que não ocorre na [forma] adquirida. No adulto é uma doença muito mais benigna e para acontecer algum comprometimento provocado pela infecção é preciso estar sem tratamento por décadas”, esclarece o médico, ressaltando que o tratamento garante a cura da doença.
Por isso, a recomendação do médico é que as mulheres que pretendem uma gravidez programada procurem realizar exames de rotina e o teste rápido antecipadamente. "Se já estiver grávida, a recomendação é fazer o exame assim que engravidar. O ideal é antes de estar grávida, mas se já estiver, é fazer o exame o mais rápido possível para iniciar o tratamento precocemente e investigar todas essas doenças silenciosas”, completa