O lugar onde uma pessoa nasce pode determinar muito mais do que o endereço no documento: ele influencia oportunidades, trajetórias e até mesmo as expectativas de futuro. Quem cresce em bairros periféricos costuma lidar com escolas menos estruturadas, falta de acesso a serviços básicos e um mercado de trabalho mais restrito. Esse ponto de partida desigual tende a se refletir em menores chances de mobilidade social, perpetuando ciclos de exclusão.
Um estudo publicado pela BBC News Brasil reforça essa visão, mostrando que fatores como bairro de origem e condições socioeconômicas familiares têm peso direto no futuro dos indivíduos. Em sociedades desiguais, como a brasileira, nascer em determinada região pode limitar o acesso a saúde de qualidade, boas escolas e empregos estáveis, criando um ciclo difícil de romper.
Os dados confirmam a urgência do tema. De acordo com a OCDE, apenas 6% dos jovens brasileiros entre 16 e 24 anos estão matriculados em cursos de formação profissionalizante, enquanto a média entre os países da organização é de 35%. A disparidade é significativa, sobretudo quando se observa que mais de 70% dos adolescentes no Brasil acreditam que esse tipo de formação é fundamental para conseguir o primeiro emprego. A lacuna entre desejo e realidade mostra o quanto ainda é preciso avançar.
“Um curso profissionalizante pode ser o divisor de águas para quem nasce em bairros onde as oportunidades escasseiam. Ele oferece não apenas qualificação prática, mas também confiança, visão de futuro e uma rede de apoio que muitas vezes falta em contextos de vulnerabilidade. É uma alavanca concreta para transformar trajetórias e desafiar o determinismo de origem”. É justamente nesse cenário que a educação profissionalizante ganha relevância. Para Lissandro Falkowiski, gerente de Educação do Centro Brasileiro de Cursos (CEBRAC), os cursos profissionalizantes funcionam como uma ponte para superar barreiras impostas pela origem.
As desigualdades, no entanto, não começam na juventude: já ao nascer, muitas crianças enfrentam cenários desiguais. Pesquisas realizadas em São Paulo mostram que a incidência de baixo peso ao nascer era quase o dobro da registrada em cidades desenvolvidas como Gotemburgo, na Suécia (9,66% contra 4,56%). O dado revela como as condições socioeconômicas podem impactar desde os primeiros dias de vida.
Além de ampliar horizontes, os cursos profissionalizantes cumprem uma função prática essencial: aproximar o estudante do mercado de trabalho em menos tempo e com custos mais acessíveis do que uma graduação tradicional. Muitas vezes, são voltados para áreas de alta demanda, como tecnologia, saúde, administração e serviços, o que aumenta as chances de inserção rápida e estável. Quando combinados a políticas públicas de inclusão e ao apoio de empresas parceiras, esses cursos se tornam instrumentos eficazes de transformação social, permitindo que jovens de diferentes origens enxerguem caminhos possíveis para o futuro.
Ao ampliar o acesso a cursos profissionalizantes, o Brasil tem a chance de criar alternativas reais para quem começa a vida em cenários mais desafiadores. Essas formações não apenas aumentam a empregabilidade, mas também oferecem perspectivas concretas de ascensão social, permitindo que o local de nascimento deixe de ser um fator determinante para o futuro.