A eleição presidencial que será decidida neste final de semana foi marcada pela forte polarização no primeiro turno, acentuada naturalmente na segunda rodada de votação quando ficam frente a frente os dois mais votados. Desde o início a campanha foi claramente plebiscitária.
A dicotomia, especialmente em um pleito de tamanha importância para o nosso país, é essencialmente prejudicial, mas já que não foi possível fugir dessa situação, pelo menos que saibamos tirar o melhor proveito do seu resultado em favor do país. Que os rancores e as feridas dos embates eleitorais não passem das urnas.
Sabidamente, a polarização eleitoral cerceia o amplo debate de propostas e programas para o futuro próximo do país, a disputa centra-se no confronto, um contra o outro, o bem contra o mal. Daí, a salutar discussão dos problemas e o caminho para suas soluções fica reduzida a exacerbadas acusações, quando um candidato não procura vender suas virtudes, mas sim os defeitos do adversário. Esse tipo de discussão política é contraproducente para o sistema, para a democracia e, por conseguinte, prejudicial ao país e seu povo.
A polarização da eleição e a dicotômica disputa nos dois turnos levou a um clima muitas vezes pesado, preocupante, o que por sua vez criou aparente clima de judicialização da campanha, com intervenções do Judiciário para dirimir dúvidas, desarmar espíritos inquietos e serenar os ânimos.
Ressalte-se que as campanhas eleitorais estão cada vez mais atreladas e dependentes das redes sociais, criando um clima de batalha virtual em que, de parte a parte, líderes, apoiadores e militantes ignoram os limites. E os exageros, os destemperos verbais, as adjetivações maldosas e acusações sem base acabam chegando às massas sujeitas a reações imprevisíveis, suscetíveis a catarses.
Os debates entre candidatos deveriam focar no futuro da economia afetada por uma severa crise sanitária com amplos reflexos, na discussão do melhor destino orçamentário em favor da educação, segurança, emprego e renda e na busca do bem-estar social. Mas, em vez disso, fomentaram clima de divisões. Isso resultou em preocupante ameaça até mesmo à unidade nacional, não apenas pela contraposição entre ricos e pobres, mas também entre regiões e populações.
Por isso, a partir da resposta das urnas, seja qual for o vencedor, é importante que esteja este plenamente convicto de que a partir de agora a prioridade é o Brasil e o bem-estar econômico e social do povo brasileiro. Que vencedores e perdedores entendam que a disputa é natural, apenas um episódio passageiro, pois o que perdura é a Nação, o povo e seus sonhos, suas ambições e sua crença em políticos e líderes amadurecidos e conscientes de sua missão.
É imperioso que haja serenidade e maturidade política. Que todos, especialmente as lideranças partidárias, candidatos e seus seguidores, militantes e apoiadores demonstrem e transmitam sensatez, aceitem e respeitem a vontade soberana da maioria expressa nas urnas. Democraticamente, sem revanchismo, sem tumultos. O Brasil precisa de união, harmonia e trabalho.
A democracia, o Brasil e os brasileiros devem ser sempre a prioridade de qualquer governo.
*Luiz Carlos Borges da Silveira é médico, ex-ministro da Saúde, ex-secretário de Ciência e Tecnologia do Governo do Estado do Tocantins e ex-secretário do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Emprego do Município de Palmas-TO.