Em meio às rodadas de negociações para que ocorra uma paz permanente entre Ucrânia e Rússia, o governo de Donald J. Trump resolveu ampliar suas pressões frente à Venezuela, liderada por Nicolás Maduro. Essa atual escalada de tensões tem como objetivo oficial conter o avanço do narcotráfico. Nas últimas décadas, com alguns cartéis de drogas colombianos mudando suas rotas no comércio internacional, países como Equador e Venezuela passaram a fazer parte do início dessas jornadas.
No entanto, em meio a uma geopolítica mais conflitiva no pós-Covid, a Venezuela passou a ser um ator-chave nas questões envolvendo China, Rússia e EUA. Diante das disputas pelo controle das riquezas minerais no mundo, alianças estão sendo ampliadas para que cada potência consiga manter seus aparatos militares e econômicos em totais condições de produção. Em relação ao governo Maduro, sua maior relação com Irã e Rússia recolocou no radar norte-americano a intenção de controlar seus interesses nas Américas.
Esse processo vem ocorrendo de diversas maneiras. Inicialmente, com pressões políticas no Canal do Panamá e discursos incisivos contra Canadá, México e Groelândia, região essa pertencente à Dinamarca. Posteriormente, com a declaração de uma guerra tarifária, que tem como um dos principais inimigos, hoje, o governo brasileiro. Agora, Trump parte para uma terceira etapa de ataques no continente americano, tendo como pano de fundo questões geopolíticas mais abrangentes.
Diante de tratativas difíceis com o governo russo de Vladimir Putin, os EUA estão buscando enfraquecer seus aliados. O Irã, grande comprador de armamento russo, foi o primeiro país a sofrer um ataque direto de Trump, em seu segundo mandato. Enfraquecido no Oriente Médio, com o avanço de Israel e a pressão militar norte-americana, o governo iraniano perdeu terreno na geopolítica do Oriente Médio.
No caso venezuelano, reconhecidamente um governo ilegítimo diante de tantas fraudes eleitorais e perseguições políticas, a ação de enviar navios militares ao redor de sua costa faz com que sua soberania fique ameaçada, podendo fortalecer uma crise interna dentro do chavismo ou fortalecer os poderes ditatoriais de Nicolás Maduro. Vale lembrar que ao se utilizar desse sentimento de ameaça, Maduro convocou milhões de milicianos para supostamente defenderem seu território.
Perdendo poder de influência no Caribe e na América do Sul, com o enfraquecimento de seus aliados regionais, como a recente derrota da esquerda na Bolívia, o governo de Maduro dependerá cada vez mais do poder de China e Rússia para sobreviver frente às pressões de Trump. Algo que será um grande desafio, pois subjaz desses movimentos, um jogo de xadrez paralelo aos conflitos na Ucrânia, que busca diminuir o raio de influência da Rússia no contexto internacional.
*Victor Missiato, professor de História do Colégio Presbiteriano Mackenzie, Tamboré. Dr. em História e Analista político.